Polimedicação em adultos e idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família
associação com fatores sociodemográficos, estilo de vida, rede de apoio social e saúde
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2462Palavras-chave:
Polimedicação, Atenção Primária à Saúde, Estratégia Saúde da Família, Envelhecimento.Resumo
Introdução: Verifica-se, no contexto global, a modificação do perfil da morbimortalidade em decorrência das transições demográfica e epidemiológica, relacionadas ao aumento do número de idosos e de doenças crônicas não-transmissíveis. Nesse cenário, a polimedicação tem se tornado frequente e, por conseguinte, seus danos são visualizados. O uso de múltiplos medicamentos amplia o risco de prescrições potencialmente inapropriadas, o que propicia interações farmacológicas, eventos adversos a medicamentos e hospitalizações. Soma-se a isso o ônus ao sistema de saúde e à assistência médica. Objetivo: Identificar os fatores associados à polimedicação em adultos mais velhos e idosos. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e quantitativo, realizado em 2018 e 2019, com n=147 adultos (45-59 anos) e n=153 idosos (≥60 anos), cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Três Lagoas/MS. Foram coletados dados de caracterização sociodemográfica, estilo de vida, rede de apoio social e informações sobre saúde. Questionou-se o número de fármacos de uso contínuo tomados por dia, sendo considerada polifarmácia a utilização de cinco ou mais medicamentos. Foi conduzida uma regressão logística binomial para identificar os fatores associados à polifarmácia. Resultados: A prevalência de polifarmácia foi 10,2% (IC95% = [6,3%-16,2%]) para os adultos e 17,0% (IC95% = [11,9%-23,7%]) para os idosos. Estiveram associados à polifarmácia para o grupo de adultos o aumento da idade (OR=1,32; IC95%=1,10-1,59) e não possuir companheiro (OR=6,52; IC95%=1,59-26,81). Já para o grupo de idosos, os fatores associados foram ter sofrido pelo menos uma queda no último ano (OR=3,33; IC95%=1,13-9,85), ser tabagista (OR=5,04; IC95%=1,30-19,62), avaliar a saúde como regular (OR=4,10; IC95%=1,16-14,54) ou ruim/muito ruim (OR=6,59; IC95%=1,31-33,08). O consumo de álcool foi inversamente associado à polifarmácia (OR=0,15; IC95%=0,02-0,98) nos idosos. Conclusões: Diante dos potenciais riscos oferecidos pela polimedicação, torna-se imprescindível a distinção dos grupos em condição de maior vulnerabilidade ao uso de múltiplos medicamentos e um acompanhamento mais cauteloso, a fim de assegurar maior segurança na prescrição de fármacos na atenção primária e o aprimoramento do cuidado.
Downloads
Métricas
Referências
(1) Pereira KG, Peres MA, Iop D, Boing AC, Boing AF, Aziz M, et al. Polifarmácia em idosos: um estudo de base populacional. Rev Bras Epidemiol. 2017 Jun;20(2):335-44. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5497201700020013 DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5497201700020013
(2) Masnoon N, Shakib S, Kalisch-Ellett L, Caughey GE. What is polypharmacy? A systematic review of definitions. BMC Geriatr. 2017 Out;17(230):1-10. DOI: https://doi.org/10.1186/s12877-017-0621-2 DOI: https://doi.org/10.1186/s12877-017-0621-2
(3) Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Ribeiro E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo - Estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 Dez;15(4):817-27. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2012000400013 DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-790X2012000400013
(4) Costa GM, Oliveira MLC, Novaes MRCG. Fatores associados à polifarmacoterapia entre idosos assistidos pela estratégia saúde da família. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2017 Ago;20(4):525-33. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.170005 DOI: https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.170005
(5) Jyrkka J, Enlund H, Korhonen MJ, Sulkava R, Hartikainen S. Patterns of drug use and factors associated with polypharmacy and excessive polypharmacy in elderly persons. Drugs Aging. 2009;26(6):493-503. DOI: 10.2165/00002512-200926060-00006 PMID: 19591524 DOI: https://doi.org/10.2165/00002512-200926060-00006
(6) Silveira PA, Silva SC, Rocha KSC. Prevalência da polifarmácia nos idosos de uma Unidade Básica de Saúde no estado de Minas Gerais. Rev Atenção Saúde. 2018;16(58):29-35. DOI: https://doi.org/10.13037/ras.vol16n58.5364 DOI: https://doi.org/10.13037/ras.vol16n58.5364
(7) Nascimento RCRM, Álvares J, Guerra Júnior AA, Gomes IC, Silveira MR, Costa EA, et al. Polifarmácia: uma realidade na atenção primária do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública. 2017;51(Suppl 2):19s. DOI: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007136 DOI: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007136
(8) Pharm KH, García-Caballos M, Casado-Fernandez E, Jucja B, Pharm DS, Bueno-Cavanillas A. Polypharmacy and potentially inappropriate prescriptions identified by Beers and STOPP criteria in co-morbid older patients at hospital discharge. J Eval Clin Pract. 2015 Set;22(2):189- 93. DOI: http://doi.org/10.1111/jep.12452 DOI: https://doi.org/10.1111/jep.12452
(9) Maher RL, Hanlon J, Hajjar ER. Clinical consequences of polypharmacy in elderly. Expert Opin Drug Saf. 2014;13(1):57-65. DOI: http:// doi.org/10.1517/14740338.2013.827660 DOI: DOI: https://doi.org/10.1517/14740338.2013.827660
(10) Akazawa M, Imai H, Igarashi A, Tsutani K. Potentially inappropriate medication use in elderly Japanese patients. Am J Geriatr Pharmacother. 2010 Abr;8(2):146-60. DOI: http://doi.org/10.1016/j.amjopharm.2010.03.005 DOI: https://doi.org/10.1016/j.amjopharm.2010.03.005
(11) Campins L, Serra-Prat M, Palomera E, Bolibar I, Martínez MA, Gallo P. Reduction of pharmaceutical expenditure by a drug appropriateness intervention in polymedicated elderly subjects in Catalonia (Spain). Gac Sanit. 2019 Mar/Abr;33(2):106-11. DOI: http://doi.org/10.1016/j. gaceta.2017.09.002
(12) Magalhães MS, Santos FS, Reis AMM. Fatores associados ao uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos na alta hospitalar. Einstein (São Paulo). 2020 Out;18:eAO4877. DOI: http://doi.org/10.31744/einstein_journal/2020AO4877 DOI: https://doi.org/10.31744/einstein_journal/2020AO4877
(13) Guedes RDC, Dias RC, Neri AL, Ferriolli E, Lourenço RA, Lustosa LP. Declínio da velocidade da marcha e desfechos de saúde em idosos: dados da Rede Fibra. Fisioter Pesqui. 2019 Set;26(3):304-10. DOI: http://doi.org/10.1590/1809-2950/18036026032019 DOI: https://doi.org/10.1590/1809-2950/18036026032019
(14) Ersoy S, Engin VS. Accessibility to healthcare and risk of polypharmacy on chronically ill patients. J Coll Physicians Surg Pak. 2019;29(6):505-10. DOI: http://doi.org/10.29271/jcpsp.2019.06.505 DOI: https://doi.org/10.29271/jcpsp.2019.06.505
(15) Stuhec M, Gorenc K, Zelko E. Evaluation of a collaborative care approach between general practitioners and clinical pharmacists in primary care community settings in elderly patients on polypharmacy in Slovenia: a cohort retrospective study reveals positive evidence for implementation. BMC Health Serv Res. 2019 Fev;19(118):1-9. DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-019-3942-3 DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-019-3942-3
(16) Esher A, Coutinho T. Uso racional de medicamentos, farmaceuticalização e usos do metilfenidato. Ciênc Saúde Coletiva. 2017;22(8):2571- 80. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232017228.08622017 DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232017228.08622017
(17) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estimativas da população enviadas ao TCU. Tabelas de estimativas para 1º de julho de 2018, atualizadas e enviadas ao TCU após a publicação no DOU [Internet]. Brasília (DF): IBGE; 2018; [acesso em 2018 Nov 30]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?edicao=22367&t=resultados
(18) Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Estatuto do idoso [Internet]. 3a ed., 2a reimpr. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013; [acesso em 2020 Jun 22]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso_3edicao.pdf
(19) Fonseca JS, Martins GA. Curso de estatística. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 1994.
(20) Bertolucci PHF, Brucki SMD, Campacci SR, Juliano Y. O Mini Exame do Estado Mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuro-Psiquiatr. 1994 Mar;52(1):1-7. DOI: http://doi.org/10.1590/S0004-282X1994000100001 DOI: https://doi.org/10.1590/S0004-282X1994000100001
(21) Nunes DP, Duarte YAO, Santos JLF, Lebrão ML. Rastreamento de fragilidade em idosos por instrumento autorreferido. Rev Saúde Pública. 2015 Fev;49:2. DOI: http://doi.org/10.1590/S0034-8910.2015049005516 DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2015049005516
(22) Luchesi BM. Dataset and questionnaire_Polypharmacy in adults and elderly registered in the Family Health Strategy: association with sociodemographic, lifestyle, social support network and health factors. Zenodo [Internet]. 2020 Jul 13. DOI: http://doi.org/10.5281/ zenodo.3942020
(23) World Health Organization (WHO). WHO global patient safety challenge - Medication without harm [Internet]. Geneva: WHO; 2017; [acesso em 2020 Jul 8]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/255263/WHO-HIS-SDS-2017.6-eng.pdf;jsess ionid=3B0A903F94988166BEF1EA5A4803942F?sequence=1
(24) Almeida NA, Reiners AAO, Azevedo RCS, Silva AMC, Cardoso JDC, Souza LC. Prevalência e fatores associados à polifarmácia entre os idosos residentes na comunidade. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2017;20(1):143-53.
(25) Santos TRA, Lima DM, Nakatani AYK, Pereira LV, Leal GS, Amaral RG. Consumo de medicamentos por idosos, Goiânia, Brasil. Rev Saúde Pública. 2013;47(1):94-103. DOI: http://doi.org/10.1590/S0034-89102013000100013 DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-89102013000100013
(26) Gutiérrez-Valencia M, Izquierdo M, Cesari M, Casas-Herrero Á, Inzitari M, Martínez-Velilla N. The relationship between frailty and polypharmacy in older people: a systematic review. Br J Clin Pharmacol. 2018 Mar;84(7):1432-44. DOI: https://doi.org/10.1111/bcp.13590 DOI: https://doi.org/10.1111/bcp.13590
(27) Miguel A, Henriques F, Azevedo LF, Pereira AC. Ophthalmic adverse drug reactions to systemic drugs: a systematic review. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2014 Jan;23(3):221-33. DOI: https://doi.org/10.1002/pds.3566 DOI: https://doi.org/10.1002/pds.3566
(28) Carli FVBO, Anjos VD, Silva AA, Evangelista VC, Gianini SHS, Cardin MA, et al. Ocorrências de quedas em idosos e a polifarmácia. Rev Eletrônica Acervo Saúde 2019;1(Suppl 37):e1082. DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e1082.2019 DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e1082.2019
(29) Castioni J, Marques-vidal P, Abolhassani N, Vollenweider P, Waeber G. Prevalence and determinants of polypharmacy in Switzerland: data from the CoLaus study. BMC Health Serv Res. 2017 Dez;17(840):1-9. DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-017-2793-z DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-017-2793-z
(30) Pappa E, Kontodimopoulos N, Papadopoulos AA, Tountas Y, Niakas D. Prescribed-drug utilization and polypharmacy in a general population in Greece: association with sociodemographic, health needs, health-services utilization, and lifestyle factors. Eur J Clin Pharmacol. 2011 Nov;67(2):185-92. DOI: https://doi.org/10.1007/s00228-010-0940-0 DOI: https://doi.org/10.1007/s00228-010-0940-0
(31) Silva GOB, Gondim APS, Monteiro MP, Frota MA, Meneses ALL. Uso de medicamentos contínuos e fatores associados em idosos de Quixadá, Ceará. Rev Bras Epidemiol. 2012 Jun;15(2):386-95. DOI: http://doi.org/10.1590/S1415-790X2012000200016 DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-790X2012000200016
(32) Griswold MG, Fullman N, Hawley C, Arian N, Zimsen SRM, Tymeson HD, et al. Alcohol use and burden for 195 countries and territories, 1990-2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet. 2018 Set;392(10152):1015-35. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31310-2 DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31310-2
(33) Drieling RL, LaCroix AZ, Beresford SA, Boudreau DM, Kooperberg C, Heckbert SR. Validity of self-reported medication use compared with pharmacy records in a cohort of older women: findings from the Women’s Health Initiative. Am J Epidemiol. 2016 Ago;184(3):233-8. DOI: https://doi.org/10.1093/aje/kwv446 DOI: https://doi.org/10.1093/aje/kwv446
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Ao submeterem um manuscrito à RBMFC, os autores mantêm a titularidade dos direitos autorais sobre o artigo, e autorizam a RBMFC a publicar esse manuscrito sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 e identificar-se como veículo de sua publicação original.