Estudo longitudinal de famílias
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc19(46)2508Palavras-chave:
Desenvolvimento humano, Resiliência, Saúde mental, Saúde relacional familiar, Estudo longitudinal.Resumo
Introdução: O desenvolvimento da família é influenciado por diversos fatores de sua organização interna e de ordem ambiental, social, cultural, econômica e política. Em contexto de pobreza os riscos são maiores. Fatores de proteção, como boa organização familiar e rede social de apoio podem diminuir as consequências negativas da pobreza. São escassas as pesquisas longitudinais sobre vulnerabilidade e resiliência nas famílias. Objetivo: Este artigo descreve o desenvolvimento de três famílias ao longo de 15 anos, estudadas por meio de entrevistas em casa, parte de uma coorte populacional de um bairro de Porto Alegre (RS). Buscaram-se associações entre a qualidade das relações nessas famílias e sua saúde física e mental, especialmente a do filho, foco da pesquisa. Métodos: Selecionaram-se no arquivo da pesquisa as três primeiras famílias (do total de 148) das quais se tinham os resultados completos das cinco visitas realizadas aos quatro meses e aos dois, quatro, nove e 15 anos de um filho. Realizou-se análise qualitativa dos registros em busca de categorias para compreender a vida e as relações interpessoais nas famílias. O estudo foi realizado em conjunto por duas pesquisadoras, médicas especialistas em desenvolvimento humano. As categorias identificadas na análise e estudadas nas cinco etapas foram: configuração familiar, situação socioeconômica, situações traumáticas, saúde física, saúde relacional e mental, evolução cognitiva e escolar do filho. Resultados: As três famílias, todas de classe C, com filhos sem problemas de saúde física, tiveram evolução suficientemente boa, apesar de todas enfrentarem múltiplos problemas, inclusive separações e mortes precoces. A relação com o sistema de saúde e escola era boa e similar para as três. A jovem com menos problemas de saúde mental foi aquela que sofreu perdas mais importantes: morte dos pais. Tinha uma estrutura familiar multigeracional sólida desde a primeira infância, com relações interpessoais predominantemente colaborativas e amorosas. Conclusões: O artigo busca avançar na compreensão da resiliência nas famílias em situações de vulnerabilidade. Concluímos que essas três famílias, uma delas mais que as outras, foram suficientemente saudáveis na tarefa de educar seus filhos sem desenvolverem problemas mentais graves. Propomos que o bom desenvolvimento se associa com a adequação e amorosidade dos cuidados com a etapa do ciclo vital, mesmo enfrentando situações problemáticas. Essas qualidades precisam estar associadas à estabilidade socioeconômica básica e a bons serviços de saúde e escola.
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