Convergências entre prevenção quaternária e promoção da saúde
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2515Palavras-chave:
Prevenção Quaternária, Promoção da Saúde, Atenção Primária à Saúde, Sistema Único de Saúde.Resumo
Introdução: A prevenção quaternária (P4) e a promoção da saúde (PS) vem se desenvolvendo em paralelo. Objetivo: Apresentar e discutir algumas relações de convergência da P4 com a PS. Métodos: Trata-se de ensaio teórico que relaciona ideias e literatura selecionadas assistematicamente, consideradas essenciais para a discussão das relações abordadas. Resultados: A P4 converge com a PS por duas vias: a) pelas suas relações com a medicalização social e b) pelas suas convergências com as ações que Geoffrey Rose chamou de medidas preventivas ‘redutivas’ - reduzir riscos aumentados de adoecimento reduzindo exposições existentes na vida moderna urbana. A medicalização gerada no cuidado clínico-sanitário reduz a autonomia relativa no manejo de sofrimentos, dores e adoecimentos; e produz dependência excessiva de ações profissionalizadas. O empoderamento individual e comunitário amplia a autonomia, e isso é um objetivo importante da PS. Quanto mais exitosa a PS, menor a medicalização; e quanto maior a medicalização, mais difícil a PS. A P4 converge com a PS por sua inibição da medicalização derivada da ação clínica. A PS visa também impactar determinantes gerais da saúde-doença. Isso, operacionalmente, a aproxima e por vezes a identifica com a prevenção redutiva. A P4 induz preferência relativa pela prevenção redutiva por ser mais segura e intensifica a atitude crítica para com a prevenção ‘aditiva’ - introdução de fatores protetores artificiais (vacinas, hipolipemiantes, rastreamentos). Assim, a prática da P4 converge operacionalmente com ações de PS. Conclusão: A P4 é convergente com a PS em dimensão microssocial - nos serviços de atenção primária à saúde (APS) - e macrossocial. A compreensão da interface da P4 com a PS facilita sua exploração, realçando a relevância da P4 no cuidado clínico e em ações coletivas na APS.
Downloads
Métricas
Referências
(1) Bentzen N. WONCA International Dictionary of General/Family Practice. Copenhagen: Maanedskift Lager; 2003.
(2) Starfield B, Hyde J, Gérvas J, Heath I. The concept of prevention: a good idea gone astray?. J Epidemiol Community Health. 2008;62(7):580-83. DOI: https://doi.org/10.1136/jech.2007.071027 DOI: https://doi.org/10.1136/jech.2007.071027
(3) Jamoulle M. Quaternary prevention, an answer of family doctors to overmedicalization. Int J Health Policy. 2015 Fev;4(2):61-4. DOI: https://doi.org/10.15171/ijhpm.2015.24 DOI: https://doi.org/10.15171/ijhpm.2015.24
(4) Depallens MA, Guimarães JMM, Almeida Filho N. Prevenção quaternária: um conceito relevante para a saúde pública? Uma análise bibliométrica e descritiva. Cad Saúde Pública. 2020;36(7):e00231819. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00231819 DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311x00231819
(5) Carta de Ottawa. In: Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde [Internet]. Ottawa, Canadá; 1986; [acesso em 2019 Dez 30]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf
(6) Jamoulle M, Roland M, Bae J, Heleno B, Visentin G, Gusso GDF, et al. Ethical, pedagogical, socio-political and anthropological implications of quaternary prevention. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2018 Jan;13(40):1-14. DOI: https://doi.org/10.5712/rbmfc13(40)1860
(7) Fortune K, Becerra-Posada F, Buss PM, Galvão LA, Contreras A, Murphy M, et al. Health promotion and the agenda for sustainable development, WHO Region of the Americas. Bull WHO. 2018;96:621-6. DOI: https://doi.org/10.2471/BLT.17.204404
(8) Conrad P. The medicalization of society: on the transformation of human coditions into treatable disorders. Baltimore: The Johns Hopkins University Press; 2007.
(9) Rose G. Estratégias da medicina preventiva. Porto Alegre: Artmed; 2010.
(10) Tesser CD, Norman AH. Geoffrey Rose e o princípio da precaução: para construir a prevenção quaternária na prevenção. Interface (Botucatu). 2019;23:e180435. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/interface.180435 DOI: https://doi.org/10.1590/interface.180435
(11) Rose N. Beyond medicalisation. Lancet. 2007;369:700-1. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(07)60319-5
(12) Clarke AE, Mamo L, Fosket JR, Fishman JR, Shim JK. Biomedicalization: technoscience, health, and illness in the U.S. Durhan, NC: Duke University Press; 2010. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctv125jk5c
(13) Petryna A. Biological citizenship after Chernobyl. In: Hahn RA, Inborn M, eds. Anthropology and Public Health: bridging differences in culture and society. New York: Oxford University Press; 2009. p. 623-51. DOI: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195374643.003.0023
(14) Illich I. A expropriação da saúde: nêmesis da medicina. São Paulo: Nova Fronteira; 1975.
(15) Canguilhem G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense-Universitária; 2002.
(16) Martins C, Godycki-Cwirko M, Heleno B, Brodersen J. Quaternary prevention: reviewing the concept. Eur J Gen Pract. 2018 Dez;24(1):106-11. DOI: https://doi.org/10.1080/13814788.2017.1422177
(17) Norman AH, Tesser CD. Quaternary prevention: a balanced approach to demedicalisation. Br J Gen Pract. 2019;69(678):28-9. DOI: https://doi.org/10.3399/bjgp19X700517 DOI: https://doi.org/10.3399/bjgp19X700517
(18) Leavell H, Clark EG. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill; 1976.
(19) Arouca S. O dilema preventivista. São Paulo: Editora UNESP; 2003.
(20) Tesser CD, Norman AH. Differentiating clinical care from disease prevention: a prerequisite for practicing quaternary prevention. Cad Saúde Pública. 2016;32(10):e00012316. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00012316 DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00012316
(21) Prado NMBL, Santos AM. Promoção da saúde na Atenção Primária à Saúde: sistematização de desafios e estratégias intersetoriais. Saúde Debate. 2018 Set;42(spe 1):379-95. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-11042018s126 DOI: https://doi.org/10.1590/0103-11042018s126
(22) Carvalho SR. Os múltiplos sentidos da categoria “empowerment” no projeto de Promoção à Saúde. Cad Saúde Pública. 2004 Jul/Ago;20(4):1088-95. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2004000400024 DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2004000400024
(23) Carvalho SR, Gastaldo D. Promoção à saúde e empoderamento: uma reflexão a partir das perspectivas crítico-social pós-estruturalista. Ciênc Saúde Coletiva. 2008;13(Supl 2):2029-40. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232008000900007 DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232008000900007
(24) Tesser CD. Introdução. In: Tesser CD, org. Medicalização social e atenção à saúde no SUS. São Paulo: Hucitec; 2010. p.11-33.
(25) Camargo Junior KR. Biomedicina, ciência e saber: uma abordagem crítica. São Paulo: Hucitec; 2003.
(26) Castiel LD, Álvarez-Dardet C. A saúde persecutória: os limites da responsabilidade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2007. DOI: https://doi.org/10.7476/9788575412336
(27) Tesser CD. Três considerações sobre a “má medicina”. Interface (Botucatu). 2009;13(31):273-86. DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-32832009000400004
(28) Wilkinson RG, Pickett KE. The spirit level: why more equal societies almost always do better. London: Penguim; 2009.
(29) Pickett KE, Wilkinson RG. Income inequality and health: a causal review. Soc Sci Med. 2015 Mar;128:316-26. DOI: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2014.12.031 DOI: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2014.12.031
(30) Sutherland RW, Fulton MJ. Health promotion. In: Sutherland RW, Fulton MJ, eds. Health care in Canada. Ottawa: Canadian Public Health Association (CPHA); 1992. p.161-81.
(31) Chor D, Faerstein E. Um enfoque epidemiológico da promoção da saúde: as idéias de Geoffrey Rose. Cad Saúde Pública. 2000 Jan;16(1):241-4. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2000000100025 DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2000000100025
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Ao submeterem um manuscrito à RBMFC, os autores mantêm a titularidade dos direitos autorais sobre o artigo, e autorizam a RBMFC a publicar esse manuscrito sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 e identificar-se como veículo de sua publicação original.