Cuidados paliativos
o ensino na graduação é suficiente para a atuação na atenção primária à saúde no Brasil?
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc18(45)3626Palavras-chave:
Cuidados Paliativos, Educação Médica, Educação de Graduação em Medicina, Estudantes, Atenção primária à saúde.Resumo
Introdução: Espera-se que o aumento da carga de doenças crônicas e do envelhecimento populacional repercuta em crescente demanda por cuidados paliativos no país. Apesar disso, no Brasil ainda há um déficit no ensino da área, visto sobretudo na escassez de sua abordagem na graduação em Medicina, assim como em outras áreas da saúde. Esse cenário traduz-se em uma formação frágil dos profissionais da saúde, principalmente médicos, impactando o cuidado necessário a pacientes com condições clínicas potencialmente ameaçadoras da vida em todos os contextos, incluindo a atenção primária à saúde. Objetivos: Este estudo objetiva analisar o panorama de ensino de cuidados paliativos no Brasil e sua implicação na formação do médico generalista e na qualidade dos cuidados prestados na atenção primária à saúde. Também objetiva identificar competências necessárias para o ensino de cuidados paliativos na graduação de Medicina. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura nacional a respeito do ensino de cuidados paliativos nas escolas médicas do Brasil e suas implicações na adequação à prática na atenção primária à saúde. Resultados: Dos estudos analisados, todos ressaltam a importância da abordagem dos cuidados paliativos na formação de base profissional na graduação e revelam a existência de lacunas a serem supridas nessa área de ensino. Entre as lacunas foram identificadas baixa abordagem nas grades curriculares, metodologias de ensino não adequadas e pouca especialização dos docentes. Com base nisso, alguns estudos brasileiros construíram propostas curriculares baseadas em mapeamento de competências mínimas na tentativa de sanar essas lacunas, incluindo habilidades de comunicação e a atitude médica diante do processo de morte. Este artigo compila as principais competências para o ensino de cuidados paliativos na graduação encontradas para o contexto brasileiro. Conclusões: A fragilidade do ensino de cuidados paliativos na graduação médica resulta em médicos generalistas carentes de competências básicas para esse tipo de cuidado, o qual ocupa cada vez mais lugar de destaque no cotidiano da atenção primária à saúde. Essa fragilidade precisa ser urgentemente abordada a fim de se adequar às necessidades populacionais, particularmente no Sistema Único de Saúde (SUS), dado o quantitativo de médicos de família e comunidade aquém das necessidades da APS brasileira.
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