Potencialidades do atendimento ginecológico pela perspectiva feminista
um relato de experiência de uma estudante de Medicina em uma instituição de médicas de família e comunidade em São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc20(47)4128Palavras-chave:
Medicina de família e comunidade, Tomada de decisão compartilhada, Medicina baseada em evidências, Exame ginecológico, Saúde da mulherResumo
Problema: Movimentos feministas do século XX advogaram por mudanças no atendimento médico à mulher, prezando por autoconhecimento, autonomia, não opressão ou patologização de corpos, por um sistema mais tolerante, inclusivo e que desse à mulher propriedade sobre o próprio corpo. A Medicina regida pela perspectiva feminista veria as mulheres como pessoas de direito, cujos interesses colocam-se frente a frente com o saber médico. Frente a isso, torna-se importante repensar e readequar os modelos de atendimento ginecológico vigentes à luz dos conceitos de autonomia, decisão compartilhada, autoconhecimento e protagonismo femininos, colocando a paciente no centro de seu próprio cuidado. Método: Este trabalho se trata de um estudo descritivo e qualitativo, do tipo relato de experiência, que busca descrever as vivências de uma estudante do 8º período de Medicina em uma instituição de médicas de família e comunidade que oferece atendimento à mulher pela perspectiva feminista em São Paulo. Resultados: Entre os resultados encontrados, tem-se a ambientação não usual do consultório em forma de sala de estar, anamnese livre de julgamentos e assunções, exame físico ginecológico em posição de superflexão, oferecimento de autoinserção de espéculo vaginal, auxílio de espelhinho de mão e narração e detalhamento de todos os procedimentos e conclusões obtidas; e, por fim, tomada de decisão compartilhada com base em evidências científicas. Conclusão: Diante da experiência vivenciada, é possível concluir que o atendimento à mulher pela perspectiva adotada pelas médicas de família e comunidade em questão cumpre o papel de empoderar, ensinar, incluir e trazer à frente suas pacientes, oferecendo-lhes ambiente seguro e de confiança, escuta atenta e livre de assunções ou preconceitos, controle sobre seus próprios corpos e possibilidade de decidir conjuntamente condutas em saúde. Como resultado, observam-se mulheres atentas a si, imersas e interessadas em seu cuidado, sentindo-se respeitadas, acolhidas e capazes de identificar e nomear alterações em seus corpos, se tornando parte integral de seu próprio cuidado.
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