Intenção de saída de médicos de família e comunidade da Atenção Primária de Florianópolis e fatores associados

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc19(46)4215

Palavras-chave:

Médicos de Atenção Primária, Reorganização de recursos humanos, Satisfação no emprego, Atenção Primária à Saúde, Medicina de Família e Comunidade.

Resumo

Introdução: Um grande desafio para a implementação de uma atenção primária de qualidade no Brasil é a rotatividade dos profissionais, que prejudica significativamente o atributo da longitudinalidade. Florianópolis já se destacou pela alta cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) e pela alta proporção de médicos de família e comunidade (MFCs) na sua rede. Entretanto, o recente aumento do número de exonerações de médicos pode ser uma ameaça à continuidade do cuidado nesse município. Objetivo: Avaliar a intenção de saída dos MFCs da atenção primária de Florianópolis nos próximos cinco anos e identificar possíveis fatores associados. Métodos: Estudo transversal realizado entre novembro e dezembro de 2023, no qual foram aplicados questionários virtuais por meio da plataforma KoboToolBox. A satisfação no trabalho e seus domínios foram mensurados por meio da escala adaptada de Warr-Cook-Wall. Posteriormente, a associação das variáveis com o desfecho “intenção de saída” foi testada por meio de testes estatísticos bicaudais, com nível alfa de 0,05. Resultados: Obtiveram-se 95 respostas, correspondentes a uma taxa de resposta de 69,9%. Cerca de 42% dos MFCs demonstraram intenção de saída da atenção primária de Florianópolis nos próximos cinco anos. As variáveis que se associaram ao desfecho com significância estatística foram maior “população ativa em consultas médicas” (p=0,046), “carga horária maior que 30 horas" (p=0,001), menor “satisfação global com o trabalho” (p<0,001). Além disso, os domínios “condições físicas” (p=0,015), “reconhecimento pelo trabalho” (p=0,002), “quantidade de responsabilidade” (p=0,024), “salário” (p=0,042), “oportunidade para utilizar habilidades” (p=0,002), “quantidade de variedade” (p=0,032) e “carga horária” (p<0,001) também se associaram ao desfecho. Conclusões: Há uma elevada taxa de intenção de saída dos MFCs de Florianópolis nos próximos cinco anos, a qual se associa com algumas variáveis pesquisadas. Considerando que a intenção de sair do cargo muitas vezes precede a exoneração do profissional, torna-se imprescindível avaliar com cautela os motivos que podem levar à não fixação dos MFCs, de modo a não prejudicar o atributo da longitudinalidade.

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Biografia do Autor

Larissa Cubas, Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis – Florianópolis (SC), Brasil.

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (2021) e residência médica em Medicina de Família e Comunidade pela Prefeitura Municipal de Florianópolis (2024).

Diogo Luis Scalco, Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis – Florianópolis (SC), Brasil.

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002), especialização em Educação na Saúde para Preceptores do SUS pelo Hospital Sírio-Libanês - (2013), mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas (2008) e residência médica pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição (2005). Atualmente é Médico do Programa Saúde da Família da Prefeitura Municipal de Florianópolis. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Medicina de Família e Comunidade.

Marília Galdiano Duarte, Distrito Sanitário Especial Indígena – Xingu (MT), Brasil.

Médica de Família e comunidade, atuante atualmente na Atenção Primária (SUS), com enfoque de atuação em acompanhamento clínico e coordenação do cuidado, com uma abordagem integral, contínua (atendimento de doenças agudas e crônicas, promoção da saúde e prevenção da enfermidade em todos os seus níveis) e longitudinal (em todas as fases da vida), focada no método clínico centrado na pessoa.

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Publicado

2024-12-10

Como Citar

1.
Cubas L, Scalco DL, Duarte MG. Intenção de saída de médicos de família e comunidade da Atenção Primária de Florianópolis e fatores associados. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 10º de dezembro de 2024 [citado 15º de dezembro de 2024];19(46):4215. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/4215

Edição

Seção

Especial Residência Médica

Plaudit