A decisão clínica compartilhada diante dos riscos do rastreamento do câncer de próstata

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2470

Palavras-chave:

Neoplasias da Próstata, Comunicação em Saúde, Tomada de Decisão Compartilhada, Prevenção Quaternária.

Resumo

Introdução: Evidências atuais apontam para desiquilíbrio entre os benefícios e danos com a prática do rastreamento do câncer de próstata, podendo provocar consideráveis riscos à saúde dos homens. Tal afirmativa fundamentou a recomendação do Ministério da Saúde sobre não estimular a realização dessa prática e a necessidade de discutir todas as implicações desses exames quando o homem solicitar sua realização. Objetivo: Analisar a percepção e experiências de homens e médicos/as sobre a tomada de decisão compartilhada para o rastreamento do câncer de próstata no Brasil. Método: Foi realizado um estudo qualitativo e exploratório, a partir de um grupo focal com homens na maturidade da idade (média: 51 anos) e entrevistas semiestruturadas com médicos/as de unidades básicas de saúde, de diferentes estados do Brasil. Abordagem analítica qualitativa, cujos dados foram categorizados pela análise de conteúdo. Resultados: Identificou-se desconhecimento dos homens sobre os possíveis danos relacionados ao rastreamento desse câncer, além de barreiras de cunho pessoal, cultural e na organização do processo de trabalho, que demonstraram dificultar à comunicação clínica durante a consulta na atenção primária à saúde (APS). De outra parte, os homens referem desejo de maior participação nas escolhas sobre sua saúde, mencionando a internet como uma ferramenta frequentemente utilizada para diminuir a disparidade de conhecimento na relação clínica. Os achados também apresentam estratégias utilizadas pelos médicos/as, como recursos gráficos e ferramentas de comunicação, que ajudam a incluir diferentes perfis de homens na tomada de decisão. Conclusão: A investigação demonstrou que, embora haja avanços em relação ao debate de possíveis implicações danosas do rastreamento do câncer de próstata e exemplos de abordagens inclusivas, essa prática ainda não está consolidada no Brasil, revelando a necessidade de incentivar a participação do homem nas decisões que influenciam diretamente sua qualidade de vida e bem-estar. Dessa forma, há a necessidade de investir em estratégias que facilitem a comunicação médico/paciente e ampliem o debate sobre as possíveis implicações do rastreamento entre os profissionais inseridos na APS e na população.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Renata Oliveira Maciel dos Santos, Instituto Nacional do Câncer (INCA)

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense, especialização em saúde da família e em Linhas de cuidados em enfermagem, mestrado e doutorado em Saúde Pública pela ENSP-FIOCRUZ. Atuou na Saúde da família por cinco anos o municícpio do Ro de Janeiro e atualmente é Tecnologista Pleno na divisão de Detecção Precoce e apoio à organização de rede no Instituto Nacional do Câncer e coordenadora do Curso à distância de detecção precoce do câncer.

Mirhelen Mendes de Abreu , Departamento de Reumatologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Reumatologista clínica de natureza acadêmica. Exercendo a especialidade através de ações no ensino, na pesquisa, na extensão e na assistência. 

 

Elyne Montenegro Engstrom , Departamento de Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz)

Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1982), residência médica em Pediatria (1984), Mestrado em Saúde da Mulher e da Criança pela Fundação Oswaldo Cruz (1994) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Desde 2002, é servidora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, Atenção Primária à Saúde (APS), com foco nas políticas e cuidado integral, saúde mental, álcool, drogas e Avaliação de Políticas e Serviços de Saúde. É líder de grupo de pesquisa "Avaliação na Atenção Primária a Saúde" no diretório CNPq. Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, do Mestrado profissional em APS/Faculdade de Medicina/UFRJ e do mestrado PROFSAÚDE/Abrasco/Fiocruz. Coordenadora do Mestrado Profissional em APS/ENSP/Fiocruz.

Referências

(1) Hargraves IG, Montori VM, Brito JP, Kunneman M, Shaw K, LaVecchia C, et al. Purposeful SDM: A problem-based approach to caring for patients with shared decision making. Patient Education and Counseling. 2019;102(10):1786–92. https://doi.org/10.1016/j.pec.2019.07.020

(2) Elwyn G, Durand MA, Song J, Aarts J, Barr PJ, Berger Z, et al. A three-talk model for shared decision making: multistage consultation process. BMJ. 2017;359. https:// doi: 10.1136/bmj.j4891

(3) Stewart M, Brown J, weston W, Mcwhiney I, Mcwillian C, Freeman T. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3o ed. Artmed; 2017.

(4) Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização: PNH [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [acesso 10 Nov 2020]. Disponível: https://bit.ly/2X37vvl

(5) Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [acesso 15 Nov 2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt2446_11_11_2014.html

(6) Brasil. Portaria de consolidação. Política Nacional de Atenção Básica. Artigo 6o Anexo XXII [Internet]. Ministério da Saúde; 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0002_03_10_2017.html

(7) Abreu MM de, Battisti R, Martins RS, Baumgratz TD, Cuziol M. Shared decision making in Brazil: history and current discussion. Zeitschrift für Evidenz, Fortbildung und Qualität im Gesundheitswesen [Internet]. 2011;105(4):240–4. DOI: 10.1016/j.zefq.2011.04.009

(8) Fenton JJ, Weyrich MS, Durbin S, Liu Y, Bang H, Melnikow J. Prostate-Specific Antigen–Based Screening for Prostate Cancer: Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task Force. JAMA [Internet]. 2018;319(18):1914–31. DOI: 10.1001/jama.2018.3712

(9) Santos ROM, Ramos DN, de Assis M. Construção compartilhada de material educativo sobre câncer de próstata. Revista Panamericana de Salud Pública [Internet]. 2018; 42:1–8. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.122

(10) Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Inca; 2015 [acesso 18 Ago 2020]. Disponível: https://bit.ly/3bPqKMP

(11) Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Monitoramento das ações de controle do câncer de próstata. Informativo detecção precoce; 2017. Boletim ano 8, n.2, julho/ dezembro [acesso 11 Jan 2020]. Disponível: https://bit.ly/3bPqKMP

(12) Norman AH. Medical ethics and screening: on what evidence should we support ourselves? Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade 2014 [citado 18 de abril de 2020];9(31):108–10. http://dx.doi.org/10.5712/rbmfc9(31)933

(13) Norman AH, Tesser CD. Prevenção quaternária: as bases para sua operacionalização na relação médico-paciente. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 2015; 10(35): 1-10, abr.-jun. https://doi.org/10.5712/rbmfc10(35)1011

(14) Norman AH, Tesser CD. Quaternary prevention: a balanced approach to demedicalisation. - [Internet]. British Journal of General Practice. 2019; 69 (678): 28-29. https://doi.org/10.3399/bjgp19X700517

(15) Tesser CD. Convergências entre prevenção quaternária e promoção da saúde. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 2020;15(42):2515–2515. DOI: https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2515

(16) Santos ROM, Engstrom EM, Abreu MM. Minha vida, minha voz na decisão: decisão compartilhada no rastreamento do câncer de próstata. Tese de doutorado. [Rio de Janeiro, RJ]: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. 2020.

(17) Uwe Flick. Introdução à pesquisa qualitativa. 3a. Porto Alegre: Artmed; 2009.

(18) SCHEFFER, M. et al. Demografia médica no Brasil 2018. São Paulo, SP: FMUSP, CFM, Cremesp; 2018.

(19) Aronowitz R, Greene J. Contingent Knowledge and Looping Effects — A 66-Year-Old Man with PSA-Detected Prostate Cancer and Regrets. N Engl J Med. 2019; 381:1093-1096. https://doi.org/ 10.1056/NEJMp1811521

(20) Minossi JG, Silva AL da. Medicina defensiva: uma prática necessária? Rev. Col. Bras. Cir. [online]. 2013, vol.40, n.6, pp.494-501. https://doi.org/10.1590/S0100-

(21) Vale HM do, Miyazaki MC de OS, Vale HM do, Miyazaki MC de OS. Medicina defensiva: uma prática em defesa de quem? Revista Bioética. 2019;27(4):747–55. http://doi.org/10.1590/1983-80422019274358

(22) Vasconcelos C. Responsabilidade médica e judicialização na relação médico-paciente. Revista Bioética. [internet]. 2012;20(3) [acesso 11 Jan 2020]. Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/757

(23) Laguardia J, Martins MS, Barcellos GB. Qualidade do cuidado em saúde e a iniciativa “Choosing Wisely”. RECIIS (Online). 2016; 10(1):1-8. https://doi.org/10.29397/reciis.v10i1.1097

(24) Silva CID. Quando o antígeno específico da próstata nos leva ao Balint: um relato de caso. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 2017;12(39):1–6. https://doi.org/10.5712/rbmfc12(39)1518

(25) Santos ROM dos, Romano VF, Engstrom EM. Vínculo longitudinal na Saúde da Família: construção fundamentada no modelo de atenção, práticas interpessoais e organização dos serviços. Physis [online]. 2018, vol.28, n.2. http://dx.doi.org/10.1590/s0103-73312018280206.

(26) Légaré F, Thompson-Leduc P. Twelve myths about shared decision making. Patient Education and Counseling. 2014;96(3):281–6. https://doi.org/10.1016/j.pec.2014.06.014

(27) Scalia P, Durand M-A, Faber M, Kremer JA, Song J, Elwyn G. User-testing an interactive option grid decision aid for prostate cancer screening: lessons to improve usability. BMJ Open. 2019;9(5): https://doi.org/ 10.1136/bmjopen-2018-026748

(28) Stacey D, Légaré F, Lewis K, Barry MJ, Bennett CL, Eden KB, et al. Decision aids for people facing health treatment or screening decisions. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2017. https://doi.org/10.1002/14651858.CD001431.pub5/full

(29) Steffensen KD, Vinter M, Crüger D, Dankl K, Coulter A, Stuart B, et al. Lessons in Integrating Shared Decision-Making Into Cancer Care. J Oncol Pract. 2018;14(4):229–35. https://doi.org/10.1200/JOP.18.00019

(30) Iverson SA, Howard KB, Penney BK. Impact of Internet Use on Health-Related Behaviors and the Patient-Physician Relationship: A Survey-Based Study and Review. J Am Osteopath Assoc 2008;108(12):699–711. [acesso em 11 Jan 2020]. Disponível em: https://europepmc.org/article/med/19075034

(31) Carneiro B, Dizon DS. Prostate Cancer Social Media: In YouTube We Trust? Eur Urol. 2019;75(4):568–9. https://doi.org/10.1016/j.eururo.2019.01.004

(32) Loeb S, Sengupta S, Butaney M, Macaluso JN, Czarniecki SW, Robbins R, et al. Dissemination of Misinformative and Biased Information about Prostate Cancer on YouTube. European Urology. 2019;75(4):564–7. https://doi.org/10.1016/j.eururo.2018.10.056

(33) Nunes FDBRS, Almeida A das DL de. Informação médica e consentimento de pessoas com câncer. Revista Bioética. 2018;26(1):119–26. https://doi.org/10.1590/1983-80422018261233

(34) Pieterse AH, Stiggelbout AM, Montori VM. Shared Decision Making and the Importance of Time. JAMA [Internet]. 2019;322(1):25–6. https://doi.org/10.1001/jama.2019.3785

(35) Marques Filho J, Hossne WS. A relação médico-paciente sob a influência do referencial bioético da autonomia. Revista Bioética. 2015;23(2):304–10. https://doi.org/10.1590/1983-80422015232069

(36) Hahlweg P, Witzel I, Müller V, Elwyn G, Durand M-A, Scholl I. Adaptation and qualitative evaluation of encounter decision aids in breast cancer care. Arch Gynecol Obstet. 2019;299(4):1141–9. https://doi.org/10.1007/s00404-018-5035-7

(37) Menear M, Garvelink MM, Adekpedjou R, Perez MMB, Robitaille H, Turcotte S, et al. Factors associated with shared decision making among primary care physicians: Findings from a multicentre cross-sectional study. Health Expect. 2018;21(1):212–21. https://doi.org/10.1111/hex.12603

(38) Hajizadeh N, Uhler LM, Pérez Figueroa RE. Understanding patients’ and doctors’ attitudes about shared decision making for advance care planning. Health Expect. dezembro de 2015;18(6):2054–65. https://doi.org/10.1111/hex.12285

Downloads

Publicado

2021-04-05

Como Citar

1.
Santos ROM dos, Mendes de Abreu M, Montenegro Engstrom E. A decisão clínica compartilhada diante dos riscos do rastreamento do câncer de próstata. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 5º de abril de 2021 [citado 29º de março de 2024];16(43):2470. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2470

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa

Plaudit