Perfil e avaliação de competências comportamentais empreendedoras em médicos de família e comunidade brasileiros donos de clínicas e consultório

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc17(44)2621

Palavras-chave:

Empreendedorismo, Saúde suplementar, Mercado de trabalho.

Resumo

Introdução: Os médicos de família e comunidade, até pouco tempo atrás restritos ao Sistema Único de Saúde, têm sido cada vez mais requisitados no sistema suplementar. As experiências como profissionais ligados à assistência e como gestores das operadoras de saúde têm levado alguns a buscar empreender por meio de negócios próprios, na forma de clínicas e consultórios. Há um conjunto de competências que caracteriza o comportamento empreendedor, chamadas na literatura de competências comportamentais empreendedoras. Objetivo: Entender como essas competências comportamentais empreendedoras estão presentes nos médicos de família e comunidade pioneiros, seu perfil demográfico e socioeconômico, e quais influências pregressas encorajaram o aceitamento do risco para investir. Metodologia: Estudo misto, com desenho qualiquantitativo e exploratório-descritivo, com médicos de família e comunidade que já possuem consultório próprio. Foi aplicado o instrumento criado por Lenzi para a quantificação das competências comportamentais empreendedoras individuais e outro com questões para a caracterização sociodemográfica e contextual da amostra. Resultados: Foram convidados 16 médicos de família e comunidade empreendedores e atuantes no território brasileiro, encontrados por meio de contato em grupos da especialidade ativos em redes sociais. Apenas 11 responderam a ambos os questionários: seis homens e cinco mulheres de oito cidades diferentes, a maior parte capitais com mais de 1 milhão de habitantes, 90,9% formados em universidades públicas, 63,6% entre 30 e 40 anos, todos com experiência pregressa no Sistema Único de Saúde. A maior parte dos negócios tem menos de um ano (45,5%), rende menos de R$ 5.000,00 ao mês (45,5%), e a maior parte dos entrevistados trabalha ainda em outros serviços, como o próprio Sistema Único de Saúde ou para operadoras de saúde (90,9%). As competências comportamentais empreendedoras mais presentes foram “comprometimento” (90,9%), “busca de informações” (81,8%), “persistência” (72,7%) e “correr riscos calculados” (72,7%). As menos presentes foram “independência e autoconfiança” (27,3%) e “estabelecimento de metas” (45,4%). Conclusões: Apesar de ser por conveniência, é possível que a amostra represente significativa parcela dos poucos médicos de família que se têm arriscado no competitivo mercado do setor privado em saúde. Suas características: jovens, com gênero equilibrado, longa experiência no Sistema Único de Saúde e início recente no mercado privado, ainda com muito receio de investir e pouca formação formal no ramo do empreendedorismo. Este provavelmente é um retrato fidedigno do momento atual. O perfil das competências comportamentais empreendedoras desenvolvidas corroborou a literatura e serviu para alertar sobre a falta de foco no planejamento, mostrando que, embora trazer a médicos de família e comunidade para o mercado privado seja uma ideia inovadora, só boas ideias não são suficientes para produzir a estabilidade e sustentabilidade dos negócios.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Bruno Brunelli, Universidade de São Paulo, School of Medicine – São Paulo (SP), Brazil.

Doutorando em Clínica Médica pelo departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Referências

Falk JW. A Medicina de Família e Comunidade e sua entidade nacional: histórico e perspectivas. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet] 2004;1(1):5-10. https://doi.org/10.5712/rbmfc1(1)2 DOI: https://doi.org/10.5712/rbmfc1(1)2

Coelho Neto GC, Antunes VH, Oliveira A. A prática da medicina de família e comunidade no Brasil: contexto e perspectivas. Cad Saúde Pública 2019;35(1):1-4. https://doi.org/10.1590/0102-311X00170917 DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311x00170917

Caixa de Assistência aos Funcionários do Banco do Brasil (CASSI). História da Cassi [Internet]. 2019 [acessado em 8 set. 2019]. Disponível em: http://www.cassi.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=350&Itemid=889

Vines J. Médicos de família passam a fazer atendimento particular personalizado. Folha de São Paulo. 2015 [acesso em 15 de out. de 2019]. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/01/1581446-medicos-de-familia- passam- a-fazer-atendimento-particular-personalizado.shtml.

Taylor, R.B. Family medicine: current issues and future practice. In: Taylor RB, David AK, Johnson TA, Phillips DM, Scherger JE, eds. Family medicine. New York: Springer; 1998. https://doi.org/10.1007/978-1-4757-2947-4_1 DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-4757-2947-4

Pomey MP, Martin E, Forest PG. Quebec’s family medicine groups: innovation and compromise in the reform of front-line care. Canadian Political Science Review. 2009 [acessado em 10 out. 2020];3(4):31-46. Disponível em: https://ojs.unbc.ca/index.php/cpsr/article/view/193

Rainey MA, Hekelman FP, Galazka SS, Kolb DA. The executive skills profile: a method for assessing development needs among family medicine faculty. Fam Med 1993;25(2):100-3. PMID: 8458536

McClelland DC. A Sociedade Competitiva: realização e progresso social. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.

Lenzi FC. Os empreendedores corporativos nas empresas de grande porte dos setores mecânico, metalúrgico e de material elétrico/comunicação em Santa Catarina: um estudo da associação entre tipos psicológicos e competências empreendedoras reconhecidas [tese de doutorado]. São Paulo: Faculdade de Administração da Universidade de São Paulo; 2008.

Santos JLG, Erdmann AL, Meirelles BHS, Lanzoni GMM, Cunha VP, Ross R. Integração entre dados quantitativos e qualitativos em uma pesquisa de métodos mistos. Texto Contexto - Enferm 2017;26(3):1-9. https://doi.org/10.1590/0104-07072017001590016 DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072017001590016

Augusto DK, David L, Oliveira DOPS, Trindade TG, Lermen Junior N, Poli Neto P. Quantos médicos de família e comunidade temos no Brasil? Rev Bras Med Fam Comunidade 2018; 13(40):1-4. https://doi.org/10.5712/rbmfc13(40)1695 DOI: https://doi.org/10.5712/rbmfc13(40)1695

Cooley L. Entrepreneurship training and the strengthening of entrepreneurial performance. Final Report. Contract No. DAN-5314-C-00-3074-00. Washington: USAID; 1990.

Spencer Junior LM; Spencer SM. Competence at work: models for superior performance. New York: John Wiley and Sons; 1993.

Dornelas JCA. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus; 2001.

Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2011.

Schumpeter JA. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural; 1982.

Krüger C, Pinheiro JP, Minello IF. As características comportamentais empreendedoras de David McClelland. Málaga: Revista Caribeña de las Ciencias Sociales; 2017. DOI: https://doi.org/10.14210/alcance.v25n2(Mai/Ago).p142-160

Behling G, Lenzi FC. A relação entre competências empreendedoras e comportamento estratégico: um estudo com Microempreendedores Individuais (MEI). In: Anais do IX Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas; 2016; Passo Fundo, Brasil. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2018. Disponível em: https://anegepe.org.br/wp-content/uploads/2021/09/180.pdf

Cohoon JMG, Wadhwa V, Mitchell L. Are Successful Women Entrepreneurs Different from Men? SSRN 2006;19(2):83-94. http://doi.org/10.2139/ssrn.1604653 DOI: https://doi.org/10.2139/ssrn.1604653

Lemos CG et al. Carreira profissional e relações de gênero: um estudo comparativo em estudantes universitários. Bol Psicol. 2005[acessado em 10 out. 2020];55(123):129-48. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432005000200002

Machado HV. Tendências do comportamento gerencial da mulher empreendedora. In: XXIII Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação em Administração. Foz do Iguaçu: ANPAD;1999. Disponível em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad1999-org-09.pdf

Lombard KV. Female self-employment and demand for flexible, nonstandard work schedules. Econ Inq 2001;39(2):214-37. https://doi.org/10.1111/j.1465-7295.2001.tb00062.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1465-7295.2001.tb00062.x

Onozato E, Bastos Junior PA, Greco SMSS, Souza VL. Global entrepreneurship monitor: empreendedorismo no Brasil: 2016. Curitiba: IBQP, 2017.

Kautonen T, Down S. Age and entrepreneurial behaviour: the role of different entrepreneurial preferences. Proceedings 2012. https://doi.org/10.5465/AMBPP.2012.10325abstract DOI: https://doi.org/10.5465/AMBPP.2012.10325abstract

Lévesque M, Minniti M. The effect of aging on entrepreneurial behavior. J Bus Ventur 2006;21(2):177-94. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2005.04.003 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2005.04.003

Scheffer M, Cassenote A, Guilloux AGA, Biancarelli A, Miotto BA, Mainardi GM. A demografia médica no Brasil 2018. São Paulo: FMUSP, CFM, Cremesp; 2018. 286 p.

Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRMPR). A medicina como profissão liberal já deixou de existir no Brasil. [acessado em 2 fev. 2020]. Disponível em: https://www.crmpr.org.br/A-medicina-como-profissao-liberal-ja-deixou-de-existir-no-Brasil-13-796.shtml#:~:text=Os%20dados%20s%C3%A3o%20eloquentes%2C%20e,vivem%20exclusivamente%20de%20pacientes%20particulares

Pedrosa Neto AH, Goulart FAA, Cássia MCG. Os médicos e a saúde no Brasil. Brasília/DF: Conselho Federal de Medicina, 1998.

Aguilar LK. Empreendedorismo e medicina estética [dissertação de mestrado]. Santa Maria: Faculdade de Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Maria; 2010.

Machado HPV, Gimenez FAP. Empreendedorismo e diversidade: uma abordagem demográfica de casos brasileiros. ANAIS DO I EGEPE, 2000. p. 132-143.

Silva NCF, Xavier Filho JLJ, Damascena EO. Competências empreendedoras em artesãos no Alto do Moura em Caruaru (PE). CGE 2019;7(1):40-62. https://doi.org/10.32888/cge.v7i1.27946 DOI: https://doi.org/10.32888/cge.v7i1.27946

Zonatto PAF, Sbissa AP, Lenzi FC, Zonatto VCS. Desenvolvimento de competências empreendedoras em ambiente colaborativo: uma análise com profissionais que atuam em escritórios de coworking. ReAT 2019;10(5):1132-52. https://doi.org/10.15210/REAT.V10I5.10425 DOI: https://doi.org/10.15210/reat.v10i5.10425

Ferras RPR et al. Empreendedorismo Corporativo em Organizações Públicas. Ibero. J Entrep and Small Business 2018;7(2):31-66. https://doi.org/10.14211/regepe.v7i2.593 DOI: https://doi.org/10.14211/regepe.v7i2.593

Publicado

2022-11-19

Como Citar

1.
Brunelli B. Perfil e avaliação de competências comportamentais empreendedoras em médicos de família e comunidade brasileiros donos de clínicas e consultório. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 19º de novembro de 2022 [citado 28º de março de 2024];17(44):2621. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2621

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa

Plaudit