Espiritualidade e resiliência na atenção domiciliar
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2213Palavras-chave:
Espiritualidade, Religião, Resiliência Psicológica, Assistência Domiciliar, Atenção Primária à Saúde.Resumo
Introdução: A atenção domiciliar (AD) caracteriza-se por práticas de cuidado que realizam abordagem integral do paciente em seu contexto familiar, socioeconômico e cultural. Religiosidade e espiritualidade atuam como mecanismos de fortalecimento da resiliência. Objetivo: Avaliar a relação entre religiosidade e espiritualidade com resiliência em pacientes em AD de Unidades de Saúde de Atenção Primária à Saúde (US-APS) de Porto Alegre (RS), Brasil. Métodos: estudo quantitativo transversal e descritivo, incluindo 44 adultos de quatro US-APS em AD por condições crônicas e problemas de saúde controlados/compensados com alguma dependência para atividades da vida diária. Foram utilizadas escalas de religiosidade (DUREL), espiritualidade (ARES), resiliência (RS-14), funcionalidade (Katz), sintomas depressivos (PHQ-2), suporte social (mMOS-SS), classificação econômica (ABEP 2016) e grau de severidade das condições clínicas (CIRS-G). Resultados: Pacientes avaliados são majoritariamente de sexo feminino (72,7 %), idosas (média 74 anos), viúvas, brancas, de baixo estrato socioeconômico, baixa escolaridade, aposentadas, com tempo médio de 7,5 anos de restrição domiciliar e grau moderado de resiliência. Os entrevistados apresentam altos índices de religiosidade e espiritualidade, sendo que 90,9% apresentam alta religiosidade intrínseca e 79,6% realizam práticas religiosas privadas uma ou mais vezes ao dia. A maioria (88,6%) considera importante que sua religiosidade e espiritualidade seja abordada em seus atendimentos de saúde, mas somente 20,5% já foram questionados sobre tal temática. Resiliência associou-se à maior espiritualidade (B=0,44; p=0,02), controlando-se este efeito para suporte social e sintomas depressivos; e à maior idade (B=0,18; p=0,02). Conclusão: O estudo corrobora a relevância da dimensão de religiosidade e espiritualidade e indica seu papel na promoção de resiliência nesta população em AD. Recomenda-se a abordagem da religiosidade e espiritualidade com esses indivíduos, fortalecendo o cuidado integral preconizado pela APS.
Downloads
Métricas
Referências
(1) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Melhor em casa. A segurança do hospital no conforto do seu lar. Caderno de atenção domiciliar. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012; [acesso 2018 Outubro 15]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/cad_vol1.pdf
(2) Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Caderno de atenção básica. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2006.
(3) United Nations (UN). Department of Economic and Social Affairs. World population prospects: the 2017 revision. Copenhagen: US; 2017. Disponível em: https://www.un.org/development/desa/publications/world-population-prospects-the-2017-revision.html
(4) Livneh H, Antonak RF. Psychosocial adaptation to chronic illness and disability: a primer for counselors. J Couns Dev. 2005;83(1):12-20. DOI: https://doi.org/10.1002/j.1556-6678.2005.tb00575.x DOI: https://doi.org/10.1002/j.1556-6678.2005.tb00575.x
(5) Rutten BPF, Hammels C, Geschwind N, Menne-Lothmann C, Pishva E, Schruers K, et al. Resilience in mental health: linking psychological and neurobiological perspectives. Acta Psychiatr Scand. 2013;128(1):3-20. DOI: https://doi.org/10.1111/acps.12095 DOI: https://doi.org/10.1111/acps.12095
(6) Patel V, Saxena S, Lund C, Thornicroft SG, Baingana F, Bolton P, et al. The Lancet Commission on global mental health and sustainable development. Lancet. 2018;392(10157):1553-98. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31612-X DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31612-X
(7) Faigin CA, Pargament KI. Strengthened by the spirit: religion, spirituality, and resilience through adulthood and aging. Resilience Aging. 2010:163-80. DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-4419-0232-0_11 DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-4419-0232-0_11
(8) Stewart DE, Yuen T. A systematic review of resilience in the physically ill. Psychosomatics. 2011;52(3):199-209. DOI: https://doi.org/10.1016/j.psym.2011.01.036 DOI: https://doi.org/10.1016/j.psym.2011.01.036
(9) Moreira-Almeida A, Pinsky I, Zaleski M, Laranjeira R. Envolvimento religioso e fatores sociodemográficos: resultados de um levantamento nacional no Brasil. Rev Psiquiatr Clin. 2010 Jan;37(1):12-5. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-60832010000100003 DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-60832010000100003
(10) Shahid R, Zuettel I. Global Index of Religiosity and Atheism. Washington, DC: WIN-Gallup International; 2012; [acesso 2018 Setembro 9]. Disponível em: http://www.wingia.com/web/files/news/14/file/14.pdf
(11) Koenig H, King D, Carson VB. Handbook of religion and health. Oxford: University Press; 2012.
(12) Moreira-Almeida A, Lucchetti G. Panorama das pesquisas em ciência, saúde e espiritualidade. Ciênc Cult. 2016;68(1):54-7. DOI: https://doi.org/10.21800/2317-66602016000100016 DOI: https://doi.org/10.21800/2317-66602016000100016
(13) Li S, Stampfer MJ, Williams DR, VanderWeele TJ. Association of religious service attendance with mortality among women. JAMA Intern Med. 2016;176(6):777-85. DOI: https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2016.1615 DOI: https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2016.1615
(14) Brasil. Ministério da Saúde. Portaria No 2.527, de 27 de outubro de 2011. Redefine a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
(15) Lucchetti G, Lucchetti ALG, Peres MF, Leão FC, Almeida AM, Koenig HG. Validation of the duke religion index: DUREL (Portuguese Version). J Relig Health. 2012;51(2):579-86. DOI: https://doi.org/10.1007/s10943-010-9429-5 DOI: https://doi.org/10.1007/s10943-010-9429-5
(16) Martinez EZ, Alves AC, Carneiro AFTM, Jorge TM, Carvalho ACD, Zucoloto ML. Investigação das propriedades psicométricas do Duke Religious Index no âmbito da pesquisa em Saúde Coletiva. Cad Saúde Colet. 2014;22(4):419-27. DOI: https://doi.org/10.1590/1414-462X201400040016 DOI: https://doi.org/10.1590/1414-462X201400040016
(17) Allport GW, Ross JM. Personal religious orientation and prejudice. J Pers Soc Psychol. 1967;5(4):432-43. DOI: https://doi.org/10.1037/h0021212 DOI: https://doi.org/10.1037/h0021212
(18) Stroppa A, Moreira-Almeida A. Religiosity, mood symptoms, and quality of life in bipolar disorder. Bipolar Disord. 2013;15(4):385-93. DOI: https://doi.org/10.1111/bdi.12069 DOI: https://doi.org/10.1111/bdi.12069
(19) Braghetta CC. Desenvolvimento e validação de um instrumento para avaliar espiritualidade: Escala de Atitudes Relacionadas à Espiritualidade (ARES) [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo - Faculdade de Medicina; 2017. DOI: https://doi.org/10.11606/D.5.2017.tde-05102017-112819 DOI: https://doi.org/10.11606/D.5.2017.tde-05102017-112819
(20) Damásio BF, Borsa JC, Silva JP. 14-item resilience scale (RS-14): psychometric properties of the Brazilian version. J Nurs Meas. 2011;19(3):131-45. DOI: https://doi.org/10.1891/1061-3749.19.3.131 DOI: https://doi.org/10.1891/1061-3749.19.3.131
(21) Wagnild GM, Guinn PE. The Resilience Scale User’s Guide. Worden, MT: Resilience Center; 2014.
(22) Katz S, Ford AB, Moskowitz RW, Jackson BA, Jaffe MW. Studies of illness in the aged. The Index of ADL: a standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA. 1963;185(12):94-9. DOI: https://doi.org/10.1001/jama.1963.03060120024016 DOI: https://doi.org/10.1001/jama.1963.03060120024016
(23) Lino VTS, Pereira SRM, Camacho LAB, Ribeiro Filho ST, Buksman S. Adaptação transcultural da Escala de Independência em Atividades da Vida Diária (Escala de Katz). Cad Saúde Pública. 2008;24(1):103-12. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000100010
(24) Wallace M, Shelkey M. Katz index of independence in activities of daily living (ADL). Am J Nurs. 2007;108(2):67-71.
(25) Gaya CM. Estudo de validação de instrumentos de rastreamento para transtornos depressivos, abuso e dependência de álcool e tabaco [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 2009. DOI: https://doi.org/10.11606/t.17.2011.tde-26092011-144558 DOI: https://doi.org/10.11606/T.17.2011.tde-26092011-144558
(26) Mosera A, Stuckb AE, Sillimanc RA, Ganzd PA, Clough-Gorra KM. The eight-item modified Medical Outcomes Study Social Support Survey: psychometric evaluation showed excellent performance. J Clin Epidemiol. 2012;65(10):1107-16. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2012.04.007 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2012.04.007
(27) Sherbourne CD, Stewart AL. The MOS social support survey. Soc Sci Med. 1991;32(6):705-14. DOI: https://doi.org/10.1016/0277-9536(91)90150-B DOI: https://doi.org/10.1016/0277-9536(91)90150-B
(28) Griep RH, Chor D, Faerstein E, Werneck GL, Lopes CS. Validade de constructo de escala de apoio social do Medical Outcomes Study adaptada para o português no Estudo Pró-Saúde. Cad Saúde Pública. 2005;21(3):703-14. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2005000300004 DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2005000300004
(29) Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério Brasil 2015 e atualização da distribuição de classes para 2016. São Paulo (SP): ABEP; 2016; [acesso 2018 Junho 12]. Disponível em: www.abep.org
(30) Miller MD, Paradis CF, Houck PR, Mazumdar S, Stack JA, Rifai AH, et al. Rating chronic medical illness burden in geropsychiatric practice and research: application of the Cumulative Illness Rating Scale. Psychiatry Res. 1992;41(3):237-48. DOI: https://doi.org/10.1016/0165-1781(92)90005-n DOI: https://doi.org/10.1016/0165-1781(92)90005-N
(31) Hudon C, Fortin M, Vanasse A. Cumulative Illness Rating Scale was a reliable and valid index in a family practice context. J Clin Epidemiol. 2005;58(6):603-8. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2004.10.017 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2004.10.017
(32) Mosqueiro BP, Rocha NS, Fleck MPA. Intrinsic religiosity, resilience, quality of life, and suicide risk in depressed inpatients. J Affect Disord. 2015;179:128-33. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2015.03.022 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2015.03.022
(33) Lucchetti G, Lucchetti AG, Badan-Neto AM, Peres PT, Peres MFP, Moreira-Almeida A, et al. Religiousness affects mental health, pain and quality of life in older people in an outpatient rehabilitation setting. J Rehabil Med. 2011;43(4):316-22. DOI: https://doi.org/10.2340/16501977-0784 DOI: https://doi.org/10.2340/16501977-0784
(34) McCord G, Gilchrist VJ, Grossman SD, King BD, McCormick KF, Oprandi AM, et al. Discussing spirituality with patients: a rational and ethical approach. Ann Fam Med. 2004;2(4):356-61. DOI: https://doi.org/10.1370/afm.71 DOI: https://doi.org/10.1370/afm.71
(35) Ehman JW, Ott BB, Short TH, Ciampa RC, Hansen-Flaschen J. Do patients want physicians to inquire about their spiritual or religious beliefs if they become gravely ill?. Arch Intern Med. 1999;159(15):1803-6. DOI: https://doi.org/10.1001/archinte.159.15.1803 DOI: https://doi.org/10.1001/archinte.159.15.1803
(36) Oliveira JAC. Desafios do cuidado integral em saúde: a dimensão espiritual do médico se relaciona com sua prática na abordagem espiritual do paciente? [dissertação]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo – Faculdade de Medicina; 2018.
(37) Medeiros CMMF, Arantes EP, Tajra RDP, Santiago HR, Carvalho AF, Libório AB. Resilience, religiosity and treatment adherence in hemodialysis patients: a prospective study. Psychol Health Med. 2017;22(5):570-7. DOI: https://doi.org/10.1080/13548506.2016.1191658 DOI: https://doi.org/10.1080/13548506.2016.1191658
(38) Bhattarai M, Maneewat K, Sae-Sia W. Psychosocial factors affecting resilience in Nepalese individuals with earthquake-related spinal cord injury: a cross-sectional study. BMC Psychiatry. 2018;18(1):60. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-018-1640-z DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-018-1640-z
(39) Tan JYS, Lim HA, Kuek NMY, Kua EH, Mahendran R. Caring for the caregiver while caring for the patient: exploring the dyadic relationship between patient spirituality and caregiver quality of life. Support Care Cancer. 2015;23(12):3403-6. DOI: https://doi.org/10.1007/s00520-015-2920-5 DOI: https://doi.org/10.1007/s00520-015-2920-5
(40) Redondo-Elvira T, Ibañez-del-Prado C, Barbas-Abad S. Espiritualmente resilientes. Relación entre espiritualidad y resiliencia en cuidados paliativos. Clín Salud. 2017;28(3):117-21. DOI: https://doi.org/10.1016/j.clysa.2017.09.001 DOI: https://doi.org/10.1016/j.clysa.2017.09.001
(41) Oliveira JAC, Anderson MIP, Lucchetti G, Ávila Pires EV, Gonçalves LM. Approaching spirituality using the patient-centered clinical method. J Relig Health. 2018 Jan;58:109-18. DOI: https://doi.org/10.1007/s10943-017-0534-6 DOI: https://doi.org/10.1007/s10943-017-0534-6
(42) Moreira-Almeida A, Koenig HG, Lucchetti G. Clinical implications of spirituality to mental health: review of evidence and practical guidelines. Rev Bras Psiquiatr. 2014;36(2):176-82. DOI: https://doi.org/10.1590/1516-4446-2013-1255 DOI: https://doi.org/10.1590/1516-4446-2013-1255
(43) Lucchetti G, Granero AL, Bassi RM, Latorraca R, Nacif SAP. Espiritualidade na prática clínica: o que o clínico deve saber?. Rev Bras Clin Med. 2010;8(2):154-8.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Ao submeterem um manuscrito à RBMFC, os autores mantêm a titularidade dos direitos autorais sobre o artigo, e autorizam a RBMFC a publicar esse manuscrito sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 e identificar-se como veículo de sua publicação original.