As relações sociais de travestis e mulheres transgênero em favela de uma cidade metropolitana brasileira registradas pelo Ecomapa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc17(44)3079

Palavras-chave:

Transexualidade, Integração Comunitária, Atenção primária à saúde.

Resumo

Introdução: A Organização Mundial da Saúde tem trabalhado com a premissa da equidade com respeito universal pela dignidade humana, assumindo o compromisso de “não deixar ninguém para trás”, e por esse motivo direciona um olhar especial para a população de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer e intersexuais. Sabe-se que a população transgênero é especialmente atingida por diversos estigmas sociais que impactam seu processo de saúde e adoecimento. Entendendo a Atenção Primária à Saúde como espaço primordial para a garantia de direitos dessa população, é necessário que os Centros de Saúde intensifiquem os esforços para acolher essas pessoas; um passo importante pode ser entender como é seu relacionamento familiar e sua inserção comunitária. Objetivo: Auxiliar na construção da visibilidade das representações que as mulheres transgênero e travestis assistidas em um Centro de Saúde têm sobre suas relações sociais. Métodos: Foram entrevistadas as travestis e mulheres transgênero moradoras de comunidade assistida pelo Centro de Saúde. As entrevistas foram feitas em profundidade e com a elaboração de ecomapa, sistematizadas com as participantes e posteriormente enviadas para sua aprovação. Os ecomapas individuais foram sintetizados em um único. Resultados: Todas as cinco travestis e mulheres transgênero que residiam na área foram entrevistadas. A média de idade foi de 27,5 anos. Sobre a autodeclaração de raça/cor, uma é branca, duas são pardas e duas, negras. Duas encontravam-se com vínculo de trabalho formal e três sem ocupação. Quatro apresentavam ensino médio completo e uma, ensino fundamental incompleto, conforme indicado na Tabela 1. Para a maioria das travestis e mulheres trans dessa comunidade, é notável o suporte familiar como ponto de apoio. No que concerne a equipamentos de proteção social, o mais citado foi a Defensoria Pública, uma organização não governamental e o Centro de Referência da Assistência Social. Todas fazem seu acompanhamento no Centro de Saúde, e uma referiu estar mais afastada por não ter demanda. A religiosidade candomblecista também foi fator de suporte para duas das entrevistadas. A maior dificuldade foi relativa à empregabilidade, com relatos de situações de transfobia. Uma das entrevistadas identificou que tem um problema relacionado à drogadição. Conclusões: Ainda há muito a evoluir em políticas públicas que promovam equidade e saúde para as mulheres trans e travestis, especialmente na garantia de cuidados com a saúde, de incentivos à empregabilidade trans e de combate à transfobia, porém as mulheres da comunidade estudada e suas famílias indicam-nos como o acolhimento e o apoio podem ser fatores diferenciais nessas trajetórias de vida.

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Biografia do Autor

Gabriela Persio Gonçalves, Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brazil.

Médica de Família e Comunidade, graduada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Residência Médica de Medicina de Família e Comunidade pelo Hospital Metropolitano Odilon Behrens (HMOB), concursada na Atenção Primária da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

Eloísa Helena de Lima, Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto (MG), Brazil.

Possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Ciências Humanas - FUMEC (1992), Mestrado em Psicologia/ Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004), Doutorado em Ciências da Saúde pelo Centro de Pesquisa René Rachou - FIOCRUZ (2013) com período de Doutorado Sanduíche em Antropologia da Saúde pela Universitat Rovira i Virgili - Barcelona/Espanha(2011) . Atualmente é professora adjunta na Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto e colaboradora na função de diretora da EMED-UFOP. Atua como docente no curso de graduação em medicina e no mestrado profissional em saúde da família lecionando disciplinas nas áreas de política, planejamento, gestão e promoção da saúde. 

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Publicado

2022-11-11

Como Citar

1.
Gonçalves GP, Lima EH de. As relações sociais de travestis e mulheres transgênero em favela de uma cidade metropolitana brasileira registradas pelo Ecomapa. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 11º de novembro de 2022 [citado 18º de abril de 2024];17(44):3079. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/3079

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa

Plaudit