Abordagem familiar na Atenção Primária à Saúde com famílias em situação de violência
percepção de preceptores de Residência em Medicina de Família e Comunidade
DOI:
https://doi.org/10.5712/rbmfc20(47)3972Palavras-chave:
Violência doméstica, Medicina de família e comunidade, Atenção primária à saúde, Internato e residência, Relações profissional-famíliaResumo
Introdução: A violência é um grave e frequente problema de saúde pública que gera impacto na vida das pessoas, famílias e comunidades, seja no âmbito físico, psicológico ou social. Entre os tipos de violência, a intrafamiliar é de elevada prevalência; tem caráter sistêmico, ou seja, todos os membros da família estão envolvidos de alguma forma. Na Atenção Primária à Saúde (APS), famílias em situação de violência são frequentemente atendidas por profissionais da Estratégia Saúde da Família. Entretanto, observa-se ausência ou pouco espaço existente na formação médica para abordar o tema. Objetivo: Conhecer a perspectiva de Médicos de Família e Comunidade (MFC), preceptores de Programas de Residência em MFC, sobre a abordagem familiar em contextos de violência intrafamiliar na APS. Métodos: Estudo de abordagem qualitativa de caráter descritivo e exploratório. Foi aplicada enquete sobre o tema para os preceptores em atividade na cidade do Rio de Janeiro, à época da pesquisa, e a seguir foram realizadas entrevistas com 15 destes preceptores. Resultados: Foram identificados potencialidades e desafios para a prática cotidiana da abordagem familiar com famílias em situação de violência, na APS. Como vantagens/potencialidades, destacaram-se: o fortalecimento do vínculo do profissional com a família; a ampliação dos recursos terapêuticos e da efetividade das intervenções; o favorecimento do cuidado integral; a articulação da rede intersetorial; a promoção da reflexão e do autocuidado familiar. Entre os desafios, foram relatados: falhas na formação médica e falta de experiência prática na abordagem do problema; a violência silenciada e o medo de abordar as situações de violência intrafamiliar; falta de diretrizes específicas para profissionais de saúde da APS; além de más condições de trabalho, excesso de população adscrita, sobrecarga assistencial, dificuldades na articulação da rede intersetorial e não valorização da gestão sobre a importância da abordagem. Conclusões: A importância da abordagem familiar por MFC foi destacada pelos entrevistados como estratégica na abordagem de violência intrafamiliar. Entretanto há muitos desafios para sua aplicação na prática. São necessários esforços e diretrizes para que os MFC e demais profissionais que atuam na APS possam ser valorizados, possibilitados e capacitados para realizar a abordagem familiar e a abordagem da violência intrafamiliar de forma sistemática e cotidiana, considerando a alta prevalência e a gravidade deste fenômeno.
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